Tak, tak: delicia, delirio

Walter Smetak

26.09.2021

 
“Pensé que sería mejor aventurarme en el desorden liberal del trópico, antes que entregarme al desastre europeo tramado por Hitler.”
 
Walter Smetak

El sello de música experimental peruano Buh Records, dirigido por Luis Alvarado, acaba de reeditar este año la edición original de “Smetak”, el primer álbum del suizo radicado en Brasil desde 1937, Walter Smetak. El álbum, de 1974, fue producido por Caetano Veloso y Roberto Santana, con el apoyo de Gilberto Gil. Esta edición limitada de 500 copias disponible para comprar a través de Bancamp) incluye el catálogo de instrumentos empleados por Smetak, agrega un folleto con nuevas fotos y presenta el audio remasterizado, además de incluir un texto de Caetano Veloso. A su vez, Buh Records ha reeditado también el segundo y último álbum de Smetak, "Interregno", producido en 1980.

Caetano Veloso, Gilberto Gil y Tom Zé fueron algunos de los más entusiastas seguidores de Smetak, dentro de la escena de vanguardia brasileña al calor del surgimiento del movimiento tropicalista.

A continuación reproducimos la introducción al mundo de Walter Smetak por Buh Records, al mismo tiempo que acercamos la visión de Gilberto Gil acerca de su figura única como una especia del caos del trópico, en su versión original en portugués.

Walter Smetak
por Buh Records

“Walter Smetak fue un músico violonchelista, compositor, inventor de instrumentos musicales, escultor y escritor suizo que desarrolló su carrera en Salvador de Bahia, Brasil, convirtiéndose en una figura emblemática de la vanguardia bahiana y pieza clave del clima cultural que hizo posible el surgimiento de la tropicalia.

Desde 1969 realizó diversos talleres de experimentación en la Universidad de Bahía. Su música quedó materializada en dos álbumes. “Smetak” (1974) e “Interregno” (1980). “Smetak” fue producido por Caetano Veloso y Roberto Santana, con el apoyo de Gilberto Gil, y allí desplegó todo un radical universo sonoro, basado en la investigación de las tradiciones ritualistas afrobrasileñas, los estudios de microtonalidad, los procesos abiertos de improvisación colectivos, siempre bajo la influencia de la teosofía que descubrió en Brasil, y que le permitió generar un simbolismo representado en la construcción de sus propios instrumentos no convencionales, muchos de ellos de carácter escultórico, fabricados con materiales inusuales como tubos de pvc, calabazas y espuma de poliestireno, a los que denominó “plásticas sonoras", fueron alrededor de 150 los instrumentos creados por Smetak. Sus partituras fueron en su mayoría indicaciones basadas en grafismos, muchas de ellas también de gran plasticidad visual.

Además de Smetak, Caetano Veloso y Roberto Santana, formaron parte de la grabación de este álbum músicos como Gereba, Tuzé Abreu, Djalma Correa, Capenga, entre otros. Sobre Smetak ha escrito Marco Scarassatti, uno de sus más importantes estudios: “Su obra original y metafísica va más allá de cualquier misticismo creado en torno a su figura. Investigó la relación entre el sonido y la luz, el espacio y la forma, la microtonalidad, la improvisación colectiva, como un alquimista del sonido, un profeta-visionario multimedia y desenchufado. Mientras transformaba la materia, Smetak se transformó a sí mismo y a muchos de los que lo rodeaban.”

Liner notes, Buh Records.
 
Smetak partitura - anestesia_4.jpg
Partitura de "Anestesia"
 
 
Smetak, tak, tak
por Gilberto Gil

“Eu costumava chamá-lo carinhosamente de Tak, Tak. Não só pelo expediente afetivo de abrandar, com um apelido, a suposta/imposta seriedade da relação mestre/discípulo que entre nós se estabelecera, como pela lembrança que a sua condição de suíço trazia de relógios. Relógios grandes, antigos, engenhosos e artísticos como os elaborados e intrigantes cucos de mecanismos intrincados e simplória atmosfera caseira. Smetak me dava a sensação de um misto de cientista louco e Papai Noel de província; misto de chefe religioso severo e ameaçador, e velho manso conselheiro de farta cabeleira branca e porta sempre aberta aos curiosos do Antique e do Mistério.

Smetak era muita coisa a um só tempo e fica muito difícil separar e analisar as partes de que foi composta sua vida, sua figura e seu papel, na sua existência brasileira que cobriu os seus últimos 30 anos. Desde que resolveu incorporar ao mundo CLEAN de sua razão de viver européia o misterioso e irracional de uma demência vaporosa dos trópicos, sua nova existência brasileira passou a desenvolver-se em nome de uma vertigem delícia/delírio que, ao assumir-se como tônica de seus impulsos novos, desejava-se ao mesmo tempo submissa (microtônica) ao encaixe da Razão Maior, austera, rigorosa e petrificante do frio de onde veio.

Cristal e Vapor, Tom e Microtom, Deus e Natureza, Matemática e Metafísica, Apolo e Dionísios, Nirvânico e Orgiástico, o plástico e a cabaça, a inteligência exata de homem branco e sexo alucinado da mulher negra, tudo a oscilar vertiginosamente de pólo a pólo, de pêlo a pêlo de sua pele de animal em mutação. O mutante em exercício pleno de sua entrega consciente ao Novo Modo.

Os resultados práticos de seu trabalho marcavam essa oscilação assumida entre a Grandeza Antiga de uma Europa, Atlante, Vitoriosa, Afirmada e Ariana, e o resgate de uma Grandeza Perdida de uma África/América, Lemuriana, Submetida e Adormecida. No vértice do seu triângulo, na cunha/quilha de seu barco: indicações de um claro avanço rumo a um sonho de homem novo. Novo Modo, Novo Mundo.

É óbvio que ao examinar seus escritos, suas partituras e gravações, seus instrumentos e plásticas sonoras, seus interesses e estudos esotéricos e filosóficos/religiosos, seu rigor suíço e seu amor ao caos do trópico, fica difícil para o leigo compreender o que se avançou com Smetak. Não creio que Smetak tenha tido sua função ligada ao mundo leigo. Ele era um iniciado e tratava com signos iniciáticos para os que miravam o Início. De uma Nova Era. De uma Nova Espécie, velha espécie de homens divididos entre a Morte e a Eternidade, por uma remota e difícil promessa de Redenção que só se encontra ao alcance da arte radical ou da busca obstinada; só ao alcance dos que resolvem escolher um dos oceanos da Dúvida e nele mergulhar.

Smetak é isso, um mergulhador de excelente performance e vários records de profundidade no oceano da Dúvida.

Eu, jamais serei impune ao fato de ter sido seu discípulo, seu amigo, seu irmão.”

Smetak, tak, tak. Gilberto Gil. Disponible en https://gilbertogil.com.br/conteudo/textos/

 
Smetak partitura - panteon_6.jpg
Partitura de "Panteon"
 
 

“Componho para pesquisar a matéria viva humano, a sua reação ou não reação ao tema abordado, o domínio do silêncio e a profundidade e dinâmica do Som que faz a música.

Componho por puro prazer ao trabalho que me propõe durante o processo no qual acontece uma felicidade muito rara .

Digo logo, componho para todos os presentes, que me acompanham, tanto os vivos que os mortos, para o Universo integral, que finalmente sou eu mesmo, ou poderia ser um dia.”

Walter Smetak